Quando Papas, Filósofos e Artistas Brindaram com Malte e Lúpulo

Quando Papas, Filósofos e Artistas Brindaram com Malte e Lúpulo

Por trás de cada gole de cerveja, há muito mais do que cevada, lúpulo e fermento. Há história, identidade, filosofia e encontros humanos. Desde a antiguidade, a cerveja acompanha momentos sagrados, decisões políticas, noites criativas e até rituais religiosos. Por isso, ela não deveria ser vista apenas como uma bebida — mas como uma expressão cultural legítima.

A seguir, você confere histórias curiosas e inspiradoras sobre como a cerveja já foi celebrada por papas, artistas, monges e pensadores ao longo dos séculos.

Papa Leão XIV em Belo Horizonte: fé, hospitalidade e um brinde mineiro

Em maio de 2025, o mundo conheceu o novo pontífice: Papa Leão XIV, o primeiro papa nascido nos Estados Unidos. Pouco após sua eleição, uma imagem antiga viralizou nas redes. Ela mostrava o então religioso sorridente, segurando um copo de cerveja artesanal durante um almoço em Belo Horizonte, Minas Gerais.

A foto foi tirada em 2004, durante a celebração dos 70 anos do Colégio Santo Agostinho. Na ocasião, Robert Prevost ainda era apenas um visitante — mas já demonstrava simpatia e abertura cultural. Anos depois, o registro ganhou força e se tornou símbolo de proximidade, simplicidade e conexão com as tradições locais.

Mais do que uma lembrança descontraída, a imagem expressa valores universais como hospitalidade, respeito e o poder de um brinde para unir culturas diferentes.

Gregório XVI e a bênção papal às cervejas trapistas

A relação entre a Igreja e a cerveja tem raízes profundas. Em 1836, o Papa Gregório XVI autorizou os monges da Abadia de Scourmont, na Bélgica, a comercializar a cerveja produzida no mosteiro. A única exigência era que o lucro fosse destinado exclusivamente a obras de caridade e ao sustento da vida monástica.

Essa decisão não apenas legalizou a prática, como também deu origem ao modelo das cervejas trapistas. Elas ainda seguem uma filosofia rígida: são produzidas dentro de mosteiros, supervisionadas por monges, e seus lucros mantêm os valores originais. Poucas cervejarias no mundo possuem o selo de autenticidade trapista, o que torna essas bebidas verdadeiras joias líquidas da tradição cristã.

Bento XVI, a Baviera e o barril de 500 litros

O Papa Bento XVI, nascido na região da Baviera, Alemanha, cresceu imerso na cultura cervejeira. Em 2007, durante seu papado, recebeu um presente inusitado de aniversário: um barril de 500 litros de cerveja artesanal enviado pela cidade de Traunstein, onde costumava beber na juventude.

Ele recebeu o presente com bom humor e demonstrou carinho pelas tradições bávaras. O episódio mostrou que até dentro do Vaticano existe espaço para reconhecer e valorizar as raízes culturais — inclusive quando elas envolvem uma boa cerveja.

Papa Francisco e a cerveja brasileira na JMJ

Durante a Jornada Mundial da Juventude de 2013, no Rio de Janeiro, o Papa Francisco recebeu de presente uma cerveja artesanal brasileira com rótulo personalizado. Embora não tenha sido visto bebendo, o gesto foi simbólico e reforçou sua imagem de líder acessível e carismático.

Francisco é conhecido por sua humildade e conexão com o povo. Naquele momento, ele reconheceu e acolheu a cultura local, demonstrando que, mesmo em sua simplicidade, a cerveja pode ser sinal de afeto, hospitalidade e celebração popular.

Hemingway, Nietzsche e o copo como inspiração

A cerveja também inspirou mentes brilhantes. O escritor Ernest Hemingway, um dos grandes nomes do século XX, era fã da bebida. Para ele, uma boa cerveja trazia silêncio criativo e clareza. Muitos de seus personagens refletem essa ligação com bares, taças e pensamentos profundos.

Já o filósofo Friedrich Nietzsche, apesar da fama de austero, valorizava o prazer sensorial. Para ele, o vinho e a cerveja eram manifestações do “espírito dionisíaco da vida” — um convite à criação, ao caos e à intensidade da existência.

Esses nomes mostram que razão e emoção, cultura e prazer, podem conviver no mesmo copo.

Monges, mosteiros e a origem da cerveja artesanal moderna

Muito antes da cerveja virar um produto de massa, ela era feita por monges medievais. Nos mosteiros da Bélgica, da Alemanha e da França, monges beneditinos, cistercienses e trapistas desenvolveram técnicas de produção que servem até hoje como base para a cerveja artesanal moderna.

Eles estudaram as leveduras, controlaram as temperaturas e descobriram como conservar a bebida — tudo isso em nome da subsistência e da devoção. Era comum beber cerveja nos mosteiros como forma segura de hidratação, já que a água era, muitas vezes, imprópria para consumo.

Ou seja: a cerveja nasceu do silêncio da oração, fermentou com o tempo e chegou até nós como parte da cultura ocidental — carregando em cada garrafa um pouco de espiritualidade e ciência.

Brindar também é um ato cultural

Quando o Papa ergue um copo de cerveja ou um escritor faz dele um ritual criativo, fica claro que estamos diante de algo que vai além da bebida. A cerveja é um elo entre pessoas, gerações e tradições. Ela pode ser o símbolo de um gesto afetuoso, de um valor compartilhado ou de um instante de pausa em meio à correria do mundo.

Por isso, da abadia ao boteco, do Vaticano à fábrica mineira, cada brinde é também uma celebração da nossa humanidade.